Autor da história: Elias Filho
Quem conta a história: Anónimo
Organização: ULHT
Título: Fases da vida de Nadine
Nível: Intermédio
Língua: Português
Resumo: A história de uma mulher desde a sua juventude à idade adulta. Teve uma infância feliz, mas uma vida cheia de dificuldades que conseguiu vencer com muito trabalho, muita perseverança. Criou os seus filhos sozinha e não se deixou vencer pelas dificuldades da vida.
Palavras-chave: família, exclusão, sacrifício, trabalho, superação.
Sabemos que a exclusão social se estende a toda sociedade há milhares de anos, desde o início da civilização humana, sendo então difícil descrever com rigor e precisão a sua complexidade. Mas podemos resumir de forma sucinta que a diferença é a raiz para haver exclusão social. Todos nós somos seres diferentes, contudo, há certas diferenças que levam inevitavelmente à exclusão, a uma inferioridade rotulada por pessoas que ferem os direitos humanos. Mas será que esta exclusão pode ser evitada? Eu digo que sim. O mundo foi evoluindo e graças à liberdade de expressão em muitos locais deste mundo, as histórias foram contadas. Muitas delas rejeitadas, porém, ouvidas cada vez mais. É importante que as pessoas contem as suas histórias e é importante que as outras pessoas saibam dessas histórias. A esperança é aquilo que resta a pessoas que não têm o poder da mudança efetiva, mas que propagam esta esperança a fim de chegar a sistemas que podem fazer a mesma. Muitas vezes, é pedido pouco comparativamente àquilo que realmente deveria ser dado. Tal como famílias e indivíduo, que apenas têm a sua fé para vencerem por si. Quando se tem uma família, passar por dificuldades torna-se um desafio enorme e de muita responsabilidade, mas quando se trata de uma família que a dada altura se desmancha, essa responsabilidade torna-se ainda maior. Esta é a história de Nadine, mãe solteira e batalhadora que se viu perante dificuldades no seu casamento e na vida dos seus filhos.
Nadine teve uma infância boa e agradável, principalmente quando ajudava os seus pais e irmãs na lavoura. Contou ela que era sua diversão, cuidar de animais, acordava às cinco horas da manhã e tirava leite das vacas, cortava erva… Ia trabalhar com as suas irmãs, muitas vezes, à chuva, pois os animais precisavam de ser constantemente bem tratados. Não é um trabalho comum, um serviço com hora para entrar e sair. Exigia responsabilidade, amor e um afeto muito grande por aquilo. Apesar do trabalho árduo, sentia prazer naqueles momentos.
Depois de já estar na juventude, Nadine e toda a sua vasta família mudaram-se para a cidade onde estudara desde pequena. Nadine inseriu-se naquele ambiente novo de cidade, onde começou a trabalhar e a divertir-se. Nadine e as suas irmãs gostavam de passear e aproveitar aquilo que a cidade lhes proporcionava, as festas, bailes, a agitação, o fervor… Contudo, o respeito pelos pais era tremendo e, por isso, apesar de aproveitarem a vida, tinham horários para cumprir. Tal como algumas das suas irmãs, Nadine também praticou atletismo, tendo participado no fogo simbólico, indo de cidade em cidade a carregar a tocha.
A mãe de Nadine, a quem ela e as suas irmãs eram muito apegadas, faleceu muito cedo, quando as filhas ainda eram jovens. Toda a família ficou de rastos, mas o papel das filhas tornou-se ainda mais importante em casa. A irmã mais velha tornou-se a mãe de todas elas, assumindo uma responsabilidade ainda maior que as outras.
Passado uns anos, Nadine queria sair da casa do seu pai e construir a sua própria família. Assim, o fez. Casou e engravidou do seu primogénito. Em seguida, com as filhas quase todas comprometidas e casadas, o pai faleceu. Outra grande perda para toda a família. Nadine e as suas irmãs cuidaram do pai antes de falecer, pois tinha doenças terminais. Iam em seu auxílio ao hospital e ouviam-no a gritar de dor, e isso afetou bastante as raparigas e o rapaz. Mas a educação e o amor que receberam permitiram que fizessem de tudo por ele, com muito amor, até aos seus últimos dias, até que finalmente descansou.
Passado uns tempos, chegou a vez da irmã mais velha partir, com outro histórico de doenças. Toda a família ficou de rastos, e perceberam que, a partir daí, teriam de seguir os seus caminhos. O apego à irmã primogénita era gigantesco e assemelhava-se ao amor de mãe. Os traumas, as lembranças e memórias tornaram-se permanentes, apenas foram camuflados com o tempo. A maioria das mulheres da sua família eram mulheres de garra e convicção. Nunca deixaram de trabalhar para cuidarem dos filhos. O facto de serem todas mulheres, havendo apenas um filho homem, o mais novo, e trabalharem desde cedo com os pais na quinta, fez delas mulheres valentes e independentes, exercendo papéis rotulados e ditos de homens naquela época. Nadine não foi diferente, era independente e uma mãe dedicada.
Em contrapartida, o seu casamento foi bastante conturbado. Apesar de todos os dramas e problemas no seu casamento, conseguiu aguentá-lo durante muito tempo. Mostrava sempre aos outros que estava feliz, mas apenas ela sabia o quanto se sentia triste. Apesar de corajosa, Nadine tinha medo de regressar a casa depois do trabalho devido ao vício do álcool do marido. Apesar de ser um homem bom, alterava-se e as coisas tornavam-se complicadas. Com o passar dos anos, Nadine engravidou do seu segundo filho, não tendo tido uma gravidez fácil, tendo ficado internada devido a muitas complicações na gestação. O primeiro, já com uma certa maturidade e a trabalhar, mencionava que queria sair daquela cidade e abandonar aquela vida. Nadine mudou-se então para outro distrito com os seus filhos e o seu casamento chegou ao fim. Achou que era mais adequado do que viver naquela instabilidade emocional e conjugal que acabaria por afetar os seus filhos.
O seu filho mais novo, ainda pequeno, ficava aos cuidados de uma ama que não o tratava da melhor maneira. Chorava sempre quando Nadine ia trabalhar, mas pensava que o filho apenas tinha saudades suas. Um certo dia, Nadine saiu do trabalho mais cedo e foi buscar o seu filho mais novo e ouviu-o a chorar do lado de fora da casa. Sorrateiramente, Nadine ouviu o seu filho a pedir um pedaço de pão a chorar, o que lhe foi negado agressivamente pela ama. Nadine, ouvindo aquelas coisas que, supostamente eram recorrentes, fez barulho anunciando a sua chegada. A ama rapidamente mudou o seu comportamento com a criança e tentou agradar-lhe com o pedaço de pão. A ama sugeriu que tinha de alimentar a criança. Nadine então disfarçadamente recusou e disse que alimentaria o filho assim que chegasse a casa. Depois desse episódio, Nadine então percebeu o porquê de o filho nunca querer ir para a ama, tendo sempre uma expressão triste. Assim, Nadine permitiu que o seu filho ficasse sozinho de manhã, visto que à tarde ia à escola. Deixava tudo preparado para que ele pudesse estar em segurança na sua ausência. Mas as dificuldades financeiras infelizmente chegaram a sua casa. Houve vários dias em que Nadine não tinha nada para comer. Chegou a vender vários dos seus pertences para que o pão não faltasse na mesa, mas infelizmente, muita das vezes não havia “pão”.
Certo dia, Nadine foi visitar uma amiga que ia de férias de Natal. Esta disse-lhe que muitos alimentos iriam estragar-se na sua ausência e perguntou se Nadine não os queria, evitando-se, assim, o desperdício. Nadine, muito agradecida e emocionada, aceitou, pois não tinha nada em casa para alimentar o seu filho e nem tinha dinheiro para pagar a renda. Para Nadine, obviamente numa situação desfavorável, o seu trabalho cada vez se tornava mais importante, e nunca deixou de trabalhar, sentindo-se várias vezes humilhada, pelo seu trabalho e pelas suas condições financeiras. Ouvindo coisas que a entristeciam. Já estava exausta, depressiva e magra perante tantas dificuldades. Apesar de poder voltar para junto das suas irmãs, Nadine decidiu continuar na jornada que, afinal, ela mesmo escolhera para si. Seria mais fácil voltar, mas acreditou que, no futuro, o melhor haveria de chegar.
Mas, como tudo nesta vida é feito de fases, aos poucos, a vida de Nadine e dos seus foi melhorando. Passados uns anos, o filho mais velho de Nadine tornou-se pai e formou a sua própria família. A cada dia que passava, Nadine estava mais perto de melhorar a sua vida, passo a passo, degrau a degrau. Num certo momento da sua vida, Nadine juntamente com o seu filho mais novo, procuravam um terreno onde pretendiam construir uma casa própria. Ao chegarem para verem o terreno escolhido por um agente imobiliário, percebeu que era um terreno muito afastado e que não era nada conveniente. Nadine passou por muitas dificuldades, então, não queria algo que não fosse realmente do seu agrado. Não queria algo sem futuro. Perguntou ao agente se não havia nada mais semelhante àquilo que pretendia, este disse que não e sugeriu que comprasse um apartamento. Mas Nadine não tinha dinheiro para tal. Então o agente propôs um acordo que interessava muito a Nadine que, sendo uma mulher de fé, pediu a Deus uma luz para que tomasse a decisão correta e não perecesse novamente. Não se deixou esmorecer pelo obstáculo e foi em busca de um apartamento para si. Seria muito dinheiro para investir, logo, teria de ser algo que valesse a pena.
Nadine recebeu uma proposta de emprego interessante. Teria de morar na casa onde iria trabalhar, ficaria isenta de despesas e iria receber um bom salário. Nadine quase não acreditou na proposta que recebera, então ajoelhou-se e agradeceu aos céus pela oportunidade. O trabalho era ainda mais árduo, mas Nadine confiou que valeria a pena todo o seu esforço e começou a pagar o apartamento que pretendia. Mesmo não percebendo como conseguiu pagar o apartamento sem precisar de pedir um empréstimo a ninguém, Nadine acredita que a sua fé e o seu esforço foram as causas para conseguir o conforto que tanto queria e merecia. Hoje em dia, Nadine considera-se uma mulher feliz, apesar do muito trabalho e esforço que lhe provocaram alguns problemas de saúde. Mas a fé trouxe-a até aqui e a fé deixa-a viver feliz. Ambos os filhos têm a sua família e carreiras e ela não podia estar mais orgulhosa. Perante as dificuldades da vida não desanimou e tornou-se uma mulher muito inteligente, sendo um exemplo de superação para muitos ao seu redor, tanto filhos como familiares, vizinhos e amigos. Nadine ainda quer conquistar algumas coisas e vai conquistá-las da maneira como fez outrora, a trabalhar com fé.
Tal como Nadine, as suas irmãs e irmão arriscaram e passaram por dificuldades, mas todos enfrentaram com fé e vigor todas as batalhas que ousaram cruzar os seus caminhos. Histórias únicas, motivadoras e inspiradoras.
Infelizmente, a fome assola muitas casas. E, muitas vezes, há uma mistura de sentimentos que se divide em pedir ajuda e não pedir. Mas podemos concluir que ao vivermos em sociedade, precisamos uns dos outros. Ninguém conquista nada sozinho, todos precisam de alguma ajuda do próximo, seja ela qual for. Desde as mais subestimadas como um teto para morar às mais desejadas como um carro do ano. A felicidade de cada um varia de acordo com a sua trajetória de vida. Podem viver com pouco e serem felizes e podem viver com muito e sentirem um vazio e depressão. Contudo, grande parte dessa tristeza é vivida dissimuladamente, pois muitas pessoas sentem-se excluídas socialmente. Nem todas as pessoas têm forças para lutarem sozinhas e precisam de um apoio social, financeiro, humanitário. E há pessoas que encontram forças até onde não existem, pois a única opção é continuar e lutar para conseguirem alcançar o que desejam, o valor social.
Devemos ajudar, devemos perguntar, devemos fazer a nossa parte para podermos estar presentes nas memórias felizes de pessoas que se cruzaram no nosso caminho.
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