Autor da história: Paulo Sousa
Quem conta a história: Anónimo
Organização: ULHT
Título: Uma razão para viver
Nível: Inicial
Língua: Português
Resumo: A história de uma mulher brasileira cuja vida é marcada pela violência doméstica, doença, sofrimento e muita fé. Oriunda de uma região muito pobre do Brasil, esta mulher recorda a sua infância miserável, a sua conversão à Igreja Adventista do Sétimo Dia e todos os momentos difíceis que passou com os seus filhos devido às situações de doença, com o marido devido à violência doméstica de que foi vítima durante muito tempo. Explica também como a sua fé a ajuda a manter-se viva.
Palavras-chave: Sofrimento, doença, violência doméstica, religião, fé.
Chamo-me Maria das Dores Amâncio Jacinto e tenho 75 anos. Sempre morei em João Pessoa, no Nordeste do Brasil, uma região muito pobre, com muito analfabetismo, populações sem serviços de saúde básicos e esta é a minha história.
Sou criada pelos meus pais e trabalhamos no campo, carregamos muito peso e lenha para queimar, não há fogão, também carrego muita água para abastecer a casa. As crianças trabalham muito e eu cresço no meio de muito trabalho e pobreza. Converto-me à Igreja Adventista do Sétimo Dia, uma Igreja protestante que segue os sete mandamentos deixados por Deus na Bíblia Sagrada. Com 15 anos, caso com uma pessoa que não é cristã. Desse casamento tenho 8 filhos, 2 filhos homens e 6 mulheres. O meu primeiro filho morre com menos de 2 anos, e o segundo, saudável, contrai uma doença degenerativa nos ossos e fica paralítico numa cadeira de rodas aos 14 anos. Aos 18 anos, depois de definhar muito, morre, mas eu continuo a ter fé em Deus.
O meu marido faz-me sofrer muito, não gosta da igreja. Não nos quer deixar ir porque, segundo, vamos lá atrás dos “machos”. Quando uma das minhas filhas é batizada, eu digo-lhe para ir assistir ao batismo, mas ele diz que não e faz uma ameaça: vais à igreja e já não entras em casa. Mesmo assim, vou com as minhas filhas. Mesmo sendo muito obediente ao meu marido, ninguém está acima do meu Deus. Quando chegamos da Igreja, ele não abre a porta e temos de dormir no passeio. Só no outro dia, às 9 da manhã, entramos em casa.
Trabalho no mercado, a vender tapioca, beiju, goma, coco e bolos para sobreviver porque o dinheiro que ele ganha como pedreiro é pouco. Gasta muito no jogo e na bebida e o que sobra não dá para sobreviver dignamente. O meu corpo já não aguenta tanta dor e sofrimento que o meu marido me causa e contraio uma doença degenerativa óssea. Sou operada ao joelho, coloco uma prótese na bacia, sou operada a uma úlcera no estômago. Em toda a minha vida, já fiz 12 cirurgias.
Ele morre de enfarte em 1991, com 52 anos. Nos seus últimos dois anos de vida, já está mais compreensivo com as minhas idas à Igreja e não me proíbe de ir com as filhas que já são crescidas. Então, começa uma nova fase na minha vida, Trabalho mais e mais, vendo panelas, caixas da tupperware, comida, abro uma lanchonete, vendo cosméticos, fruta, faço de tudo para criar as minhas filhas. A minha relação com Deus cresce, mas em 2005, uma filha querida suicida-se muito nova, com 35 anos. Ficamos todos em choque, com muita oração conseguimos sarar essa dor. Grande parte da minha família serve a Deus na Igreja Adventista e isso deixa-me muito feliz. Saber que tenho participação nisso é o meu maior orgulho. Dez anos depois, em 2015, coloco um pacemaker. Em 2019, ao realizar exames de rotina, diagnosticam-me um cancro no útero, o que me deixa muito abalada, mas como sou muito forte e tenho muita fé em Deus, que nunca me abandona, aceito a doença, e percebo que tenho forças para lutar. Nesse momento, sinto a presença de Deus ao meu lado. Não estou sozinha, suporto todas as quimioterapias, o meu cabelo cai e, perante tantas adversidades, estou curada, estou viva e feliz e isso tudo graças à minha fé em Jesus.
Ainda espero viver alguns anos com os meus familiares e esperar a volta de Jesus que vai acontecer muito em breve. Sou perseverante até hoje e tudo vai ficar bem quando esta pandemia passar. Eu sou um milagre, um milagre feito por Jesus. Esta é a minha história, de luta e de muitas tristezas, mas sou forte porque tenho Jesus e tenho muita fé que vou vencer. Já não sou nova e não vou viver muito tempo, mas sou uma seguidora de Jesus e sei que, através da nossa fé em Deus, conseguimos vencer as dificuldades.